Investigação publicada na Science
Observações da sonda Messenger obrigam a repensar formação de Mercúrio
 
Uma fotografia da superfície de Mercúrio (Carnegie Institution of Washington/NASA)
Não há nada como ver os objectos de perto para os conhecer melhor, e a  última vez que se olhou com atenção para Mercúrio foi há 37 anos, com a  sonda Mariner 10. Teorias sobre o planeta mais pequeno do Sistema Solar  foram feitas a partir destes resultados, mas tudo mudou com a Messenger.  A sonda lançada em 2004 começou a orbitar o planeta a 18 de Março deste  ano e os dados dos primeiros 90 dias já obrigaram os cientistas a  deitar fora aquelas teorias, de acordo com sete artigos publicados nesta  quinta-feira na revista Science.
“A presença em abundância de enxofre e potássio na superfície de  Mercúrio mostra que o planeta não sofreu as altas temperaturas no início  da sua história que pareciam prováveis nas teorias sobre a formação de  Mercúrio”, disse Sean Solomon, um dos vários autores dos sete artigos,  que trabalha no Instituto Carnegie, em Washington, e que foi o cientista  escolhido pela Science para comentar o trabalho, através de um podcast.
Solomon  explica que o tamanho de Mercúrio e as forças gravíticas entre os  planetas do Sistema Solar levaram gerações de cientistas a concluir que a  quantidade de ferro presente no planeta tinha que ser muito maior do  que a que existe nos outros planetas do interior do Sistema Solar -  Vénus, Terra e Marte. Ou seja, Mercúrio é um planeta densíssimo, com um  terço do diâmetro da Terra, com imenso ferro. Em 1974, a Mariner 10, que  fez três aproximações a Mercúrio - mas que nunca orbitou o planeta como  a Messenger - confirmou esta visão. 
As teorias que foram  nascendo sobre a sua formação envolviam ou altas temperaturas vindas do  Sol, que queimaram uma parte mais externa e mais rochosa do planeta e  deixaram a versão mais pequena e mais metálica que hoje conhecemos, ou  um outro objecto com um tamanho semelhante ao de Mercúrio que embateu  contra este e arrancou essa camada mais rochosa, com a ajuda de altas  temperaturas. Em ambos os casos e de acordo com o que se sabe hoje, se  isto realmente tivesse acontecido, grande parte do potássio e do enxofre  que se encontrou agora à superfície do astro teria sido volatilizada.  Por isso, o cientista é peremptório: há que “repensar todas as ideias  sobre a formação de Mercúrio”.
Um espectrómetro de raio-X foi o  instrumento que permitiu medir estes elementos na superfície do planeta e  faz parte dos seis instrumentos principais da Messenger, cujo nome é  uma espécie de acrónimo para Mercury Surface, Space Environment, Geochemistry and Raging.
Os  instrumentos trouxeram mais surpresas. Os cientistas descobriram uma  camada de lava solidificada que cobre seis por cento da área do planeta,  o equivalente a três quintos dos Estados Unidos, e tem uma espessura de  mais de um quilómetro. A lava brotou de rachas na superfície em grandes  quantidades, num fenómeno de vulcanismo que durou pouco tempo e  aconteceu entre 3,5 e quatro mil milhões de anos atrás. Esta lava seria  tão quente que derretia a superfície, provocando sulcos.
A equipa  também descobriu uma paisagem nunca vista, formada por muitos buracos  sem bordas salientes, que ocorrem em zonas de substratos brilhantes no  meio de crateras de impacto de meteoritos. “A melhor explicação é que há  um material destes depósitos que sublimou”, defendeu Solomon. As altas  temperaturas diurnas de Mercúrio podem ter volatilizado alguma  substância, formando estas concavidades. Isto mostra que ainda “é  possível que Mercúrio esteja geologicamente activo”, disse o cientista,  acrescentando que a sua superfície pode estar a alterar-se pela perda de  alguns materiais.
A sonda tem pelo menos mais seis meses de  observação, se a NASA não quiser prolongar os trabalhos. Solomon espera  que prolongue. O Sol está a atingir o pico do seu ciclo de actividade e,  segundo o cientista, é um privilégio ter um observatório que testemunha  esta interacção com o planeta mais próximo da sua estrela. Isto e  tentar perceber como é que astros irmãos como Mercúrio, Vénus, Marte e  Terra são hoje tão diferentes.
 
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