Primeiro observatório solar português inaugurado ontem em Constância
19.08.2007 - 14h22 , Marta Ferreira Reis
O primeiro observatório solar da península Ibérica, dirigido ao ensino e divulgação, foi inaugurado ontem à tarde no Centro de Ciência Viva de Constância, o único do país dedicado à Astronomia e que, este fim-de-semana, recebe a Astrofesta 2007.
Quando se entra no laboratório de heliofísica, a primeira coisa que se vê é uma mesa comprida, com uma objectiva, espelhos, prismas e feixes de luz. É assim que tudo acontece. Um espelho instalado no terraço em cima da sala, sempre apontado ao sol, absorve a luz solar, que é projectada para o interior através de um pequeno buraco. Recolhida a matéria-prima, há três pontos de observação: uma projecção em tela, onde se vê a imagem do sol como se se estivesse a olhar directamente para ele (mas sem os riscos da observação directa), uma projecção em computador filtrada por hidrogénio-alfa, que permite assistir em directo à formação de protuberâncias no sol (uma espécie de labaredas, mas com um comprimento maior do que o tamanho da Terra) e a decomposição da luz solar nas cores do arco-íris, para conhecer melhor os componentes do sol.
Além de se poder ver em directo, ou quase em directo, o que se passa no sol, os dados são gravados e podem vir a ser utilizados em projectos científicos. "Não vamos viver tempo suficiente para perceber se o sol muda muito, mas podemos perceber se os estudos que estão a ser feitos sobre o seu funcionamento estão ou não correctos e perceber se esse funcionamento se relaciona com os ciclos climáticos da Terra", disse Máximo Ferreira, director do Centro de Ciência Viva de Constância.
O objectivo principal é despertar os alunos e a população em geral para a ciência. "Os alunos vão poder ver, por exemplo, imagens das manchas solares e perceber como elas se alteram. Ligamos a Astronomia à Física e à Matemática, falamos de elementos químicos. O que fazemos é a aplicação prática daquilo que é aprendido na escola", acrescenta Ferreira.
"As pessoas têm aqui uma oportunidade única de ver aquilo que, no seu dia-a-dia, é praticamente impossível. Quando um professor na escola fala no sol e mostra umas fotografias às crianças, elas duvidam, pensam se o sol estará a uma distância muito grande. Aqui há a oportunidade de explicar tudo, porque as pessoas estão a olhar para uma coisa que está ali", diz João Vieira, da Orion, Sociedade Científica de Astronomia do Minho.
No Centro de Ciência Viva de Constância, todos os equipamentos servem o mesmo propósito, aproximar os jovens da ciência. O truque parece ser o mesmo para todos os cientistas ligados ao ensino. "A Astronomia é uma das áreas mais privilegiadas para fazer a aproximação das pessoas às ciências, porque é uma ciência que está relacionada com quase todas", diz Nuno Crato, matemático e conferencista na Astrofesta.
Situado no Alto de Santa Bárbara, a três quilómetros do centro da vila, o parque astronómico reúne um conjunto de equipamentos pensados para explicar de forma simples e interactiva o funcionamento dos astros. Uma réplica do alinhamento dos planetas do sistema solar, uma esfera celeste com aros que permitem perceber fenómenos como a rotação ou os equinócios, um carrossel onde as crianças podem experimentar a translação ou observar as diferentes posições das principais luas de Júpiter, são algumas das plataformas disponíveis e construídas com preocupações científicas: estão orientadas a norte, quando é caso disso, e reproduzem à escala algumas distâncias ou a duração dos principais movimentos.
A ligação da vila à astronomia nasceu em 1996, com um protocolo com a Faculdade de Ciências de Lisboa. "Lembro-me de, em pequeno, vir a Constância para ver o Tejo. Agora vimos a Constância também para ver e experimentar ciência", lembrou o secretário de Estado da Ciência, Manuel Heitor, que presidiu à inauguração do observatório solar.
"No Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra (OAUC) a fotosfera e a cromosfera solar são estudadas desde 1926, através de observações feitas com um tipo clássico de espectroheliógrafo. Devido às boas condições climatéricas o espectroheliógrafo é usado quase diariamente em observações fotográficas monocromáticas, da totalidade do disco solar nas componentes da risca do cálcio ionizado, K3 e K1V e ainda, na risca do hidrogénio, H-alfa. O espectroheliograma na componente K1V dá informação à cerca dos fenómenos de actividade solar que se verificam na fotosfera (como as manchas solares). O espectroheliograma na componente K3 e na risca H-alfa revelam a actividade da cromosfera (ex: regiões faculares, filamentos, proturberâncias e erupções).
Com o espectroheliógrafo do OAUC obtem-se em média cerca de 240 a 260 observações por ano, será provavelmente, a melhor prestação quantitativa que se consegue actualmente obter na Europa.
Nos últimos anos o Grupo de Física Solar do OAUC tem desenvolvido trabalho científico relevante, com base nas observações efectuadas com o espectroheliógrafo, em colaboração com diferentes grupos e intituições espalhadas pelo mundo (Goddard Space Flight Center,NASA, Observatório de Paris,Meudon, Rep. Checa, Hungria, etc.). Sendo de destacar a a participação no projecto SOHO como observatório terrestre."
Haja bom senso e não se exagere...
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